segunda-feira, 28 de setembro de 2015

Igreja Primitiva x Igreja Moderna



(Primeiramente, gostaria de me desculpar pela falta de postagens nas últimas semanas. Estávamos corridos na produção do material destinado à campanha de jejum em nossa igreja local e não conseguimos manter as duas frentes (Blog e livro para o jejum) ativas. Desde já, agradeço pela compreensão e, principalmente, pelos pedidos insistentes para voltarmos com as publicações aqui no Blog!)

Esclarecimentos à parte, é interessante prestarmos atenção na realidade que temos vivido dentro das diversas denominações cristãs em todo o mundo. Na última postagem, comentamos que, devido ao processo de desenvolvimento da Igreja, nos tornamos cristãos extremamente tradicionais e com raízes muito religiosas, impedindo o mover puro e constante do Espírito em nossas igrejas.

Não é difícil notar que, em qualquer ambiente, os liderados são um reflexo da liderança. Esse princípio também se aplica dentro da Igreja. Esse é o motivo de termos hoje tão grande número de cristãos que estão mais preocupados em seguir um conjunto de regras do que viver dentro de um relacionamento íntimo com Deus. Esse distanciamento partiu justamente dos líderes cristãos no mundo. E hoje, temos o reflexo disso: uma completa distinção entre Igreja Primitiva e Igreja Moderna.

E quando olhamos especificamente para o cenário das igrejas cristãs no Brasil, vemos em diferentes proporções as mesmas características: pastores muito bem sucedidos financeiramente, distantes da realidade dos membros de suas igrejas, cheios de técnicas para motivar, causar emoções, arrecadar fundos, transmitir ideias e vender produtos para seus públicos.

Temos muitos líderes com os mais diversos títulos (apóstolos, missionários, bispos, diáconos, profetas, mestres, ministros) que mais se parecem com os tão populares "Coaches", profissionais treinados para gerar o resultado desejado, do que com pastores, aqueles que cuidam, alimentam, se compadecem, incentivam, discipulam e geram Vida.

Quantas vezes nós vemos na internet vídeos de líderes de igrejas fazendo duras críticas a políticos específicos, rebatendo difamações com desrespeito e reclamando por serem vítimas de perseguição e afrontas? Eu, particularmente, perdi as contas. Quantos outros vídeos podemos encontrar de líderes quase obrigando seu público a ofertar e dizimar, pois se não o fizer estaria debaixo de maldição ou que o Devorador iria consumir suas finanças? Infelizmente, não são poucos. Quantas histórias de pessoas passando necessidades sendo completamente ignoradas ou acusadas de estarem em pecado enquanto seus líderes desfrutam de uma vida cheia de regalias?

E são essas distorções que me causam profunda tristeza e ânsia por ver mudança urgente! Não estou aqui para citar nomes nem denominações. Meu objetivo é abrir os olhos de todos, tanto dos líderes quanto dos liderados, para que possamos compreender qual a verdadeira vida do Evangelho. Não sou melhor do que ninguém, tenho plena consciência disso. Justamente por esse motivo que sei que há uma necessidade de mudança! Todos nós, cristãos, temos um papel de fundamental importância para levarmos nossas igrejas a viverem uma realidade que há muito foi distorcida.

Creio que chegou a hora de nos posicionarmos, reconhecermos nossas falhas e mudarmos nossas prioridades. Ao invés de colocarmos nosso foco no número de pessoas que se converteram, de igrejas que foram abertas, de alvos a serem alcançados, coloquemos nosso foco em nosso relacionamento com o Senhor, e Ele nos levará a conquistar vidas, a crescer explosivamente e sobressair em todos os alvos que Ele mesmo colocou em nossos corações!

A nossa prioridade deve ser restabelecer o padrão da Igreja Primitiva nos dias de hoje. Nele, as críticas a governantes transformam-se em oração e súplica para conversão e misericórdia em suas vidas; a ênfase nos dízimos e ofertas é revertida em gratidão e desejo de cada cristão de ser um participante na expansão da obra, sabendo que toda provisão financeira vem do Senhor, que Ele nos ama incondicionalmente e que não há mais maldição para os que estão em Cristo Jesus; a acusação e os julgamentos são substituídos pela compaixão e pela mutualidade, com a consciência de que todos estamos sujeitos às falhas e que, se eu posso ajudar um irmão necessitado, eu vou ajudar meu irmão necessitado.

A igreja não precisa de bons líderes, eloquentes e influentes. Precisa de cristãos verdadeiramente íntimos com o Senhor, tementes, submissos e sensíveis aos Seus direcionamentos que conhecem o Evangelho verdadeiro.

terça-feira, 8 de setembro de 2015

Com tradição, nos tornamos a Igreja da contradição.


A história da Igreja Cristã começa no início do primeiro século depois de Cristo. Tendo suas raízes no Judaísmo, os discípulos de Jesus deram o início a um novo estilo de vida para aquela época. Crendo que Jesus era o Messias prometido pelos profetas, eles começam a pregar as boas novas de que finalmente o homem voltara a ter livre acesso à presença de Deus, dispensando os rituais e sacrifícios para purificação, justificação e redenção. A Lei havia passado. A Graça passara a ser o novo estilo de vida. Com essa nova ideologia, esse novo estilo de vida, a igreja primitiva partiu de pouco mais de 100 membros para mais de 300.000 em cerca de dois séculos. Um crescimento realmente explosivo e expressivo, levando em consideração os meios disponíveis para a propagação de informação, meios de transporte e conexão entre povos distintos daquela época.

O problema começa a surgir no início do século terceiro depois de Cristo, quando o então imperador de Roma, Constantino, declara o cristianismo como a religião oficial do Império. O que para muitos aparentava ser uma boa notícia (afinal, pela primeira vez o cristianismo deixaria de ser perseguido e passaria a ser apoiado) transformou-se num verdadeiro terror ao verdadeiro cristianismo iniciado pelos discípulos de Jesus. Uma vez que o cristianismo tornou-se a religião oficial do Império Romano, toda e qualquer religião que não fosse a cristã deveria ser perseguida e proibida de ser praticada. Foi assim que se deu início das perseguições, intolerâncias religiosas e atrocidades a vários povos em nome da religião cristã. Foi assim que surgiu a Igreja Católica na Idade Média, também conhecida como Idade das Trevas. Esse nome foi dado pela associação com as medidas horrendas e totalmente desumanas praticadas pelo Clero do sistema feudal (regime posterior ao do Império Romano), que regia as leis da época. Mas quando trazemos para a representação espiritual, a Idade das Trevas também pode ser compreendida como o período em que não houve mais relatos do mover real do Espírito Santo em meio aos povos.

Todo esse contexto era necessário para chegarmos na melhor compreensão do que nós vivemos hoje como igreja cristã no Brasil. A cultura religiosa jamais foi retirada de nossa sociedade. Pelo contrário, desde o início da colonização tivemos a catequização dos nativos e a instauração da Igreja Católica como a oficial e a correta a ser seguida. Com as revoluções ocorridas na Europa e América do Norte, o cristianismo passou a ter novas ramificações, que só tiveram impacto real no Brasil na década de 80. Mas foi realmente nos anos 90 que a igreja cristã brasileira recebeu completo renovo. Moveres profundos de adoração, libertação, renovação, fluir do Espírito e crescimento explosivo simultâneos ao quatro cantos do país, colocando as igrejas evangélicas em grande evidência.

O que toda essa história da Igreja tem a ver com o título da postagem? Tudo. É justamente por causa dessas raízes religiosas, que jamais foram completamente removidas de nossos pensamentos e cultura, que hoje temos igrejas extremamente intolerantes, tradicionais e que causam certa repulsa em nossa sociedade.

Igrejas que pregam a verdade do Evangelho, mas que, por causa do tradicionalismo, contradizem suas próprias pregações:
- Pregam que através da Obra da Cruz, onde Cristo morreu e ressuscitou por nós, somos amados e aceitos por Deus; mas afirmam que se não entregarmos nossos dízimos e ofertas, seremos amaldiçoados, e que se não orarmos nem jejuarmos, Deus não se agradará de nós.
- Pregam que somos todos iguais e aceitos diante de Deus e que o importante é o nosso interior; mas o tradicionalismo condena cristãos que se tatuam, pois essa é uma "atitude mundana e carnal" e ainda exige que pastores andem vestidos com trajes sociais completos (e ainda colocam razões espirituais para tal).
- Pregam que Cristo nos liberta do pecado; entretanto, estabelecem regras, leis, códigos de conduta para os cristãos e estabelecem punições para os que caem em pecado.

Não podemos permitir tais incoerências em nosso meio, nem mesmo ao extremo oposto, onde vemos pastores pregando que dízimo é coisa da Lei de Moisés e que a Lei passou e por isso não há mais dízimos; jovens que são irresponsáveis se tatuando sem terem a menor noção do que alguns símbolos representam e passam a se vestir de maneira inapropriada, afirmando que todos os que não se tatuam ou se vestem de certa maneira é porque são antiquados e religiosos; pastores e líderes vivendo imersos no pecado, com a desculpa de estarem na graça, anulando completamente os princípios bíblicos sobre casamento, relacionamentos e estilo de vida santos; irmãos coniventes com o pecado alheio, tendo atitudes passivas em relação a tudo ou ainda abolindo qualquer tipo de autoridade dentro da igreja.

Se quisermos estabelecer padrões na Igreja, estabeleçamos o padrão de Cristo: não há acepção de pessoas, o amor ao próximo deve ser incondicional, o foco é o relacionamento com o Espírito Santo que nos levará a experimentar a cultura do Reino dos Céus aqui na Terra e que acima de todas as coisas está nosso Deus.

- De acordo com a Bíblia, o princípio de ofertar algo ao Senhor vem desde o início da humanidade e o dízimo surgiu com Abraão, ambos antes da Lei de Moisés. Com Jesus, o princípio permanece o mesmo: nossos dízimos e ofertas não são obrigação, são uma demonstração da nossa gratidão por tudo aquilo que o Senhor tem nos dado. Não entregamos nada nem fazemos obras para sermos aceitos por Deus, cremos que a Obra da Cruz foi completa e suficiente para nos perdoar, redimir e justificar diante do Pai e que toda maldição já foi quebrada.
- A maneira como nos vestimos, falamos e nos portamos reflete nossas individualidades. Essa tradição de pastores se vestirem sempre de social não é maléfica, mas não pode ser pretexto para julgarmos pastores que não se vestem assim, presumindo que não podem ser levados a sério. O mesmo serve para tatuagens. A Bíblia em momento algum condena tal prática, então não devemos rejeitar quem tem. Assim como devemos ser coerentes e responsáveis por aquilo que fazemos com nosso corpo, sem colocar nenhum tipo de rótulo naqueles que não querem se tatuar ou querem se vestir de maneira mais social.
- O pecado infelizmente está presente no cotidiano do homem. Todos nós sempre iremos pecar, até que cheguemos à estatura do varão perfeito. Por isso, devemos saber lidar com o pecado, evitando a condenação aos irmãos que caem, sem sermos coniventes com o pecado. A grande questão é conseguirmos levar todos ao nosso redor a terem um relacionamento de intimidade com o Senhor, pois somente Jesus venceu o pecado. Logo, somente o Espírito que habita em nós pode nos levar a uma vida longe do pecado.

O equilíbrio, o bom senso e a sabedoria são indispensáveis na vida cristã. Nossas tradições não podem ficar acima dos princípios bíblicos.

Que o nosso relacionamento com o Senhor Jesus nos leve a viver o Evangelho sem restrições.