sexta-feira, 14 de agosto de 2015

Cristãos no título, fariseus na prática

Cristãos no título, fariseus na prática 

Num pensamento lógico, quiçá óbvio, todo cristão segue a Bíblia como uma espécie de manual ou guia de seu modelo de vida. É automático para um cristão dizer que segue aquilo que está contido na Palavra. Mas, infelizmente, a realidade não transmite essa obviedade.

No mundo cristão hoje temos várias denominações, conceitos, práticas, títulos, costumes e tradições. Aparentemente, com respaldo bíblico para cada uma delas. Aparentemente.

Vamos nos contextualizar um pouco. Encaremos a realidade da imagem que a Igreja (em letra maiúscula, pois representa o Corpo como um todo, independente da denominação, ou seja, todos os que creem que Cristo é o cabeça) tem passado para o mundo em que vivemos. Quando você afirma ser cristão para aqueles que estão ao seu redor, o que acontece?

Não posso falar por todos, mas comigo é sempre a mesma coisa. Ao afirmar ser cristão, crente, evangélico ou qualquer outro nome que deem por aí, todos pensam as mesmas coisas: "Hmmm... então você não pode beber nada alcoólico, não pode sair pra se divertir, entrega seu dinheiro pro pastor todo mês, não pode andar com quem não é da igreja, não deve escutar músicas que não são 'Gospel'"... e por aí vão os "achismos" em relação ao que posso, não posso, devo, não devo, faço, não faço.

Sinceramente, nada disso me importaria, não fosse o motivo que originou tais "achismos". Toda essa mentalidade não é nada ilógica ou incoerente, pelo contrário é completamente justificada pela postura dos cristãos na sociedade. Nós mesmo construímos essa imagem, e, o pior, muitos se orgulham disso.

Conheço muitos cristãos - quase todos - que enchem o peito para afirmar que as pessoas reconhecem de longe que ele é crente. Seria interessante se isso ocorresse por motivos verdadeiramente cristãos. Mas a verdade é que esse reconhecimento vem por religiosidade.

Por definição, cristão é aquele que adota o estilo de vida de Cristo. Ou seja, em teoria, os cristãos deveriam ser reconhecidos por serem os mais amáveis, respeitosos, pacientes, hospitaleiros, carismáticos, compreensivos, generosos, alegres e revolucionários aos olhos do mundo, pois Cristo era visto assim. Um pouco diferente da imagem que o mundo tem, não?

O problema acontece porque nós trocamos o referencial: ao invés de buscarmos a direção do Espírito (que habita em todos os receberam a Cristo como Senhor e Salvador) juntamente com a verdade absoluta contida na Bíblia, deixamos com que padrões humanos e referenciais diferentes de Cristo e incoerentes com a Palavra de Deus determinassem nossas práticas.

Quando algum pastor, apóstolo, bispo, diácono, papa, arcebispo, mestre, profeta, servo (ou seja lá qual for título clerical) disser algo, não podemos tomar como verdade absoluta! Se um pastor disser que você está proibido de, por exemplo, beber bebidas alcoólicas, você precisa compreender se há respaldo bíblico. Mais importante do que qualquer outra coisa é a Palavra de Deus.

Esses costumes são, em sua maioria, benéficos. Mas viver somente neles faz com que tenhamos uma religião terrível! A intolerância com os que não conhecem a Cristo, a falta de bom senso, as críticas e acusações por determinadas práticas não correspondem ao estilo de vida de Cristo.

Enquanto nós estamos mantendo essa APARÊNCIA de santidade, e estufando o peito com isso, achando que estamos super corretos e agrando a Deus, Jesus foi chamado de amigo de pecadores, beberrão e glutão. Quem chamou Jesus disso? Religiosos. Ou seja, o nosso cristianismo hoje nada mais é do que uma religiosidade.

Nós nos parecemos muito mais com os fariseus da época de Cristo, que julgavam a todos os que estavam a seu redor e eram cegos quanto às próprias atitudes, do que com o próprio Jesus. 

Somos tão rápidos quanto eles para condenar, por exemplo, alguém que se diz cristão e é tatuado, ou que goste de beber cerveja, ou que escute música não-gospel. Mas extremamente tardios em nos aproximar e conhecer a realidade espiritual dessas pessoas.

Somos rápidos em dizer que somos dizimistas e ofertantes, mas demorados em ajudar os que estão ao nosso redor.

Somos rápidos em condenar práticas que biblicamente são incorretas, mas dificilmente compreendemos o outro, nos colocamos em seu lugar, amamos incondicionalmente e procuramos fazer algo para tirar a pessoa dessa condição.

Jesus não pecou tampouco aceitava o pecado. Entretanto, Ele jamais condenou o pecador. A atitude dele não era a de rejeitar, mas a de se aproximar e influenciar para o único caminho que gera vida. 

Jesus foi chamado de amigo de pecadores porque se relacionava com eles. Foi chamado de beberrão porque tomava um vinhozinho junto com eles; de comilão porque em fartura com eles. E todos os que se deixavam conhecer Cristo mais intimamente percebiam quão Santo, sábio, cheio da Vida e graça Ele era. Mas aos olhos do religiosos, Jesus não passava de um carnal.

Difícil depararmos com essa realidade, não? A Igreja precisa transformar a mentalidade, para que a realidade seja alterada. Se nós nos voltarmos aos princípios Bíblicos e estivermos dispostos a quebrar paradigmas e tradições, certamente conseguiremos mudar.

Precisamos de uma Igreja que seja diferente. Uma igreja cristã. Não de título. Mas de prática.

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