O Equilíbrio e Bom Senso: Marcas do Ministério de Cristo
1 Coríntios 10:23-31:
"Todas as coisas são lícitas, mas nem todas convêm; todas são lícitas, mas nem todas edificam. Ninguém busque o seu próprio interesse, e sim o de outrem. Comei de tudo o que e vende no mercado, sem nada perguntardes por motivo de consciência; porque do Senhor é a terra e a sua plenitude. Se algum dentre os incrédulos vos convidar, e quiserdes ir, comei de tudo o que for posto diante de vós, sem nada perguntardes por motivo de consciência. Porém, se alguém vos disser: Isto é coisa sacrificada a ídolo, não comais, por causa daquele que vos advertiu e por causa da consciência; consciência, digo, não a tua propriamente, mas a do outro. Pois por que há de ser julgada a minha liberdade pela consciência alheia? Se eu participo com ações de graças, por que hei de ser vituperado por causa daquilo por que dou graças? Portanto, quer comais, quer bebais ou façais outra coisa qualquer, fazei tudo para a glória de Deus."
Um texto bíblico extremamente comum e usado em várias pregações. O primeiro versículo, então, é um dos que são mais usados por aqueles que querem condenar algumas práticas de irmãos que, aos seus olhos, são inconvenientes.
A parte final dele é usada pelo outro ponto de vista. Irmãos que dizem ser livres para fazerem o que bem quiserem, onde quiserem sem se importarem com as influências exercidas, pois a liberdade deles não deve ser julgados por outros.
E fiz questão de trazer o texto completo, porque o apóstolo Paulo coloca os supostos 'dois lados da moeda' num mesmo contexto, sem qualquer tipo de contradição nem contraposição. Paulo coloca o equilíbrio e explica de maneira muito clara um princípio fundamental do cristianismo: equilíbrio e bom senso são indispensáveis para a vida da igreja.
É fato que em meio à Igreja existem denominações tidas como liberais, outras tidas como rigorosas, irmãos mais tradicionais, outros menos.
A questão é como lidamos com as individualidades dentro do Corpo. Nesse texto exposto acima, Paulo começa nos dando uma lição muito importante: somos livres pela Cruz para fazermos o que bem quisermos, mas é fato que nem tudo convém ser feito por aqueles que dizem ter sido transformados pelo poder do Espírito Santo. Assim como ele coloca a questão da consciência como parâmetro de avaliação pessoal, com o intuito de incentivar a todos os irmãos a terem um relacionamento com o Espírito (pois nossa consciência é guiada justamente pelo Espírito) nos afastando dos julgamentos sem fundamentos, para que compreendamos que qualquer coisa que venhamos a fazer deve ser feita para que Deus seja glorificado.
Pessoalmente, anseio por ver a Igreja finalmente compreendendo que há espaços para todos, bem como para as características pessoais de cada um.
Na postagem anterior, me referi que, infelizmente, temos vivido uma religiosidade muito grande em vários aspectos. O tradicionalismo excessivo acaba gerando uma situação complicada: os diferentes não são cristãos referenciais. Bem como a libertinagem com pretexto de liberdade em Cristo nos leva ao pensamento de que quem não é livre como eu sou, é religioso e fechado.
Quando vemos pela ótica mais tradicional, pessoas tatuadas são associadas como sendo carnais, rebeldes e sem realidade com o Senhor. Se há irmãos que ocasionalmente bebem cerveja ou vinho, ou outras bebidas alcoólicas presumimos que há problemas com mundanismo, mesmo caso de quem ouve músicas que não são as chamadas "Gospel".
Nesses três exemplos, gostaria de enfatizar que nenhuma dessas práticas é condenada ou tida como pecaminosa dentro da Bíblia. Porque a questão nesse caso não é o que está sendo feito, mas com qual motivação está sendo feito.
Quando rotulamos essas práticas como sendo pecado e que devem ser excluídas completamente da vida do cristão, seremos condenados por nossa própria incoerência.
Por que tatuar é sinal de carnalidade, rebeldia e falta de realidade? Muitos dizem que é pelo fato de estarmos alterando nosso corpo de maneira definitiva e que tatuagens são socialmente conhecidas e relacionadas à pessoas rebeldes. Tudo bem. Compreendo. Mas sejamos coerentes com nossas regras, e vamos abolir também cirurgias plásticas. Afinal, com a cirurgia estamos mudando de forma definitiva nossos corpos e, no mundo, faz plástica quem quer exibir seu corpo (tendo o bom senso de saber que estou falando de cirurgias no âmbito estético).
Por que ouvir músicas do mundo ou gostar da tão polêmica 'cervejinha' é sinal de problemas na realidade com Cristo? A justificativa assemelha-se à anterior. São práticas costumeiramente associadas à pessoas do mundo e que remetem à realidade de pessoas que não conhecem a Cristo. Mais uma vez, compreendo. Então retiremos também do nosso cotidiano os programas televisivos, o cinema, as festas, e essas práticas que são propriamente mundanas.
Quando estabelecemos muitos padrões de conduta, infelizmente cairemos no erro de enrijecer o Corpo de Cristo através das incoerências, que vão nos levar a coisas absurdas, tais como esses exemplos comparativos que expus.
E aí, chegam aqueles irmãos que dizem: "É isso mesmo, minha liberdade não pode ser julgada pelos outros, e, sim, por minha própria consciência!". E aí o abençoado, que gosta da cervejinha, começa a chamar qualquer pessoa pra beber com ele, em qualquer lugar, sem se importar com nada.
O outro, passa a escutar somente música do mundo porque "a qualidade é muito superior", e começa a se encher de desenhos em tatuagens porque está na moda e ele é livre pra fazer o que ele bem quiser.
"Ah, Jesus foi chamado de comilão, beberrão e amigo de pecadores!". Sim, mas ele não era beberrão, comilão nem pecador. Ele estava ali para gerar transformação na vida das pessoas, e não se conformava nem copiava as práticas do mundo.
E o mais grave é quando esses irmãos começam a dizer e a rotular todos aqueles que não bebem, ou que não têm tatuagens como sendo religiosos, quadrados, antiquados. Aí os novos convertidos não ficam na igreja, ele começa a perder a influência, e ainda diz não saber o porquê. O apóstolo Paulo também é muito claro em 1 Coríntios 8:10-13 em relação a isso. Fazer com que irmãos com a consciência mais fraca caiam no erro por causa da nossa liberdade é pecar contra nossos irmãos.
Tenhamos o bom senso de saber que há tempo, lugar e companhia certa para tudo. Mas saibamos também respeitar aqueles que são livres para ter algumas práticas que nós não nos sentimos confortáveis para fazer.
É necessário haver compreensão e evitarmos presumir através da aparência. Em Mateus 22:16, os discípulos reconheciam isso em Jesus: ele não se importava com a aparência dos homens. O exterior é apenas um detalhe, que vai de acordo com a particularidade de cada um.
Recomendo a leitura do capítulo 2 do livro de Colossenses que explica bem claramente essa mesma situação, onde o equilíbrio deve haver, respeitando as individualidades sem que haja julgamento baseado no exterior.
Que o Senhor nos conceda a graça de amarmos incondicionalmente, aceitarmos as diferenças e avançarmos em unidade, tendo Cristo como modelo.
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